Coisa de vizinho

20 set 2020 – 626 – NR

Domingo de setembro em Brasília, seca a pino, vigésima oitava semana de confinamento, trinta graus segundo o termômetro da esquina. Sem missa, nem coreto, além da modorra domingueira, a expectativa é pouca.

Mas não se pode perder a fé, a confiança em dias melhores e de que a humanidade não está totalmente perdida. Não, não está.

Ocorreu que enquanto tomava banho, me recompunha da breve – nem por isso menos cansativa – caminhada, consta que ocorreram leves batidas à porta. Não, não foi a campainha estridente, assustadora. Foi um “toc toc” singelo, coisa de menina, menina pequena – dois anos. Pequena, jovem vizinha que sempre nos brinda com sua meninice de espírito cristal.

Bem atrás da menina, um jovem senhor (ou seria senhor jovem, hoje chamariam de “cara”, mas não acho elegante), alto, forte, protetor, empunhando uma arma. Arma branca.

Não se assustem, arma do bem, arma de gentileza, gentileza engarrafada, desta vez branca.

Uma garrafa de vinho. Branco, refrescante só de olhar, capaz de refrescar a mais seca das secas e eliminar a modorra do domingo, não apenas pelo vinho, mas sobretudo pela gentileza. Isto me conta Inajá, pois eu não vi. Considerando a prova, a própria garrafa de vinho, só posso acreditar. Há ainda o fato de que o jovem – depois do vinho, é apenas jovem – é reincidente, para não dizer recalcitrante.

Já é a terceira vez.

E eu aqui, sem saber como retribuir à altura, fico apenas com um

Muito Obrigado