Em si

– 17 out 2008 – 

Há muito tempo que queria falar sobre o “em si”. Eu comecei este texto em 2001 e só agora consigo completá-lo, mesmo que parcialmente, mais para liberar o arquivo de minha lista de pendências e estimular o debate. A demora deve-se à complexidade do assunto. Não é fácil falar do em si. O consolo é que ler sobre o em si é ainda mais difícil e você, pelo menos por enquanto, está aí, lendo sobre o em si. Não desista, vá até o final.

O em si, todos sabem, é esta coisa íntima das coisas, a coisa em si, como se diz. Pois muito se tem falado da coisa em si e pouco se fala sobre o em si em si mesmo, sua constituição, seu eu, seu em si.

Todo mundo tem o seu próprio em si, o seu em si mesmo e ainda que não pareça, o em si de cada um fala por si só. Incrível isto. Imagino que esta negligência ao próprio em si se deva à agitação da vida moderna que nos impede uma reflexão mais profunda sobre as coisas que nos  cercam e, sobretudo, sobre as coisas interiores, tão próprias de cada um. O em si de cada um, naturalmente, é a intimidade mais íntima, mais profunda, mas que não precisa ficar escondida em si mesma. O em si pode ser revelado e há situações em que deve ser revelado.

Foi pena que os apagões não deram certo. Um apagão como os que se esperavam há alguns anos, com jeito de apocalipse e de que ia acabar em imposto novo poderia ensejar momentos muito próprios para a investigação do em si de cada um. Mas também nisto o governo nos decepciona. Não tivemos os apagões, mas tivemos o novo imposto. Não se pode ter tudo. Assim, há que aceitar que cada um deve buscar seu momento para análise do seu em si.

O erro mais grave sobre o em si é que as pessoas esperam muito dele. É como no estudo de  vidas passadas, ninguém quer ter sido escravo. Todos querem vidas passadas de luxo, poder, riqueza, façanhas, realizações, força. Tudo em grandes doses. O mesmo se dá com o em si. Todos querem alguma descoberta profunda capaz de revolucionar a filosofia e os costumes. Explicações e revelações transcendentais, descobertas espetaculares, novos princípios.

Ilusão, nosso em si é assim simplesinho como a gente, um emsizinho, por assim dizer.

Paciência!

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