Bissexto

29 02 2020 – 617 – NR

A inspiração – menos Renato, foi uma só uma ideia – me chega por mensagem de correio eletrônico de amigo muito querido – meu irmão mais velho – que, lendo uma crônica de David Coimbra em jornal de Porto Alegre, dá conta do possível retorno do trema – aqueles dois pontinhos sobre o “u” que permitem diferenciar “lingüiça” de “linguiça”.

Parece que era daqueles em papel (o jornal), pelo que entendi. Este cara é um saudosista mesmo. O meu amigo. O cronista, no mínimo excelente. Achava que nem tinha mais, menos pela falta de cronistas do que pela falta de público. Quem lê mais de um parágrafo e o interpreta corretamente? Nem um nem outro, é uma pena. Sei, mesmo que sem a intenção, botei você, escasso e importante leitor, no compromisso.

Embora o tema me seja muito caro, como uma cinderela, preciso liberar o texto antes da meia noite. Ao longo do texto impecável – da mensagem, não da crônica – há a lembrança óbvia – ma non tropo – de que hoje é o dia 29 de fevereiro de 2020, portanto um ano bissexto que ele mesmo lembra é bissexto como a nossa comunicação, o que não diminui o meu apreço e admiração (rima involuntária).

Agora vejo, foi como um sinal. Inajá me alerta, olho pela janela, vejo o totem com hora, temperatura e data a me roubar um dia de vida, antecipando o dia primeiro de março e tomo como um alerta: os anos bissextos vão acabar, mercê da TI e seu produto mínimo viável. O tema da minha crônica bissexta há que ser a “bissextualidade”, se permitem o improviso.

Mas bem, tirando os leitores com menos de quatro anos, todos sabem que um ano bissexto é aquele que tem trezentos e sessenta e seis dias, em lugar dos trezentos e sessenta e cinco costumeiros e isto ocorre a cada quatro anos. Mas, como se diz modernamente, “só que não”.

Nesta ótica, para saber se um ano é bissexto bastaria verificar se é divisível por quatro (divide-se o ano por quatro e se o resto for nulo (zero), o ano é divisível por quatro). Quase isto. Os anos divisíveis por cem (todos já sabem, divide-se o ano por quatro – não, agora é por cem – e se o resto for zero, é divisível por 100) não são bissextos, embora sejam divisíveis por quatro (a divisão resulta 25).  Mas os que viveram nos anos de 1600 e 2000 – são cada vez menos – reclamarão que aqueles anos foram bissextos. De fato, ocorre que que os anos divisíveis por 400 (não precisa explicar mais – divide-se por 4…) são bissextos.

Resumindo: um ano é bissexto se for divisível por quatro e não for divisível por cem, exceção feita aos divisíveis por 400 que são igualmente bissextos.

Mas isto eu e meu amigo aprendemos juntos no século passado, ao fazer algum exercício de programação estipulado por outro grande amigo, também mais velho, na época nosso chefe comum. A ideia revolucionária na época era justamente prevenir o problema que hoje se vê nos totens de Brasília, não sei dos demais. Não adiantou.

Há quem diga que isto tudo – os anos bissextos – foi uma guerra de poder entre papas, mas não, esta confusão tem um motivo. Basta observar o tempo passar, a Terra a girar em torno do Sol e conferir. Bem, talvez seja melhor olhar na Internet.

Bissextos são também os eventos ímpares (não tem nada com ser divisível com algum número), como nossas comunicações ocasionais e a minha produção de crônicas.

Refeito do susto dado pelo totem da esquina volto a aproveitar o dia adicional  ou o que resta dele, como uma dádiva que agradeço.

Aproveitem! A esta altura, melhor esperar que tenham aproveitado.

P.S.: o programador do totem deve ser um estagiário – gênio, já que deve ter menos de quatro anos.,

 

 

 

 

 

Quantas Ave Marias?

A renúncia do Papa Bento XVI, com todos os elementos da política vaticana, nos lembra de que mesmo entre os religiosos onde, teoricamente, estas questões menores deveriam ser relegadas, o poder é buscado a qualquer preço.

A busca pelo poder, a meu ver mais que tudo por pura vaidade, ocorre em qualquer lugar e não seria o Vaticano exceção. Talvez seja aquele vermelho todo.

Não deveríamos estranhar, pois mesmo padres, bispos, cardeais o próprio papa, ao que consta, são humanos. Mas estranhamos. Talvez isto se deva a uma ponta, pontinha, de esperança de que em algum lugar as pessoas tenham um mínimo de bom senso e o desejo legítimo de servir aos outros e não à própria vaidade, como em geral acontece.

Pessoas assim, menos vulneráveis à vaidade, existem em bom número, mas não haverá de ser no fausto dos palácios e rituais que as encontraremos. Mais fácil buscá-las nas coisas e lugares simples.

Vendo estas reportagens todas me vem à lembrança o sacramento da confissão e fico imaginando o movimento nos confessionários do Vaticano. Deve ser um tititi danado. Um ciclo permanente de pecado, confissão, perdão e novos pecados, talvez o mesmos. Provavelmente os mesmos dado que, como diz o Dr. House, “people don’t change”.

– Fiz isto, fiz aquilo

– Deus te perdoa, filho.

Fico curioso sobre as penitências. Imagino que é coisa pra mais de mil Ave Marias, uns quinhentos Pai Nossos e ainda uma dúzia de Atos de Contrição, se é que ainda lembram destas orações mais populares. Pensando bem, acho que é pouco, melhor não arriscar palpites.

Mas fica a pergunta: quantas Ave Marias – das sinceras – serão necessárias?